terça-feira, fevereiro 28, 2006
No campo...
O dilema mais antigo...
...do mundo volta a debate e o FNV [Mar Salgado] arruma o assunto com uma tirada definitiva: «Cá para mim, uma bela amizade com uma mulher não se estraga se formos para a cama de vez em quando, antes pelo contrário.»
Carnaval
sábado, fevereiro 25, 2006
Da liberdade à barbárie
Quando há dias questionava, acerca do caso David Irving, se «faz sentido condenar alguém à prisão por defender uma tese, por mais absurda que possa ser?», não estava apenas a ser retórico.
É óbvio que não faz sentido. Mas - sim, sou dos que usam muito o mas... - a resposta que me deu o Paulo Gorjão [Bloguitica] toca exactamente no ponto a que queria chegar. Diz ele, citando Ralf Dahrendorf: «In my view, Holocaust denial should not be outlawed, in contrast to the demand for all, or any, Jews to be killed.»
O problema é que eu acho que uma coisa nunca pode ser totalmente desligada da outra. Ou seja, apenas em teoria acho possível que alguém ponha em causa o Holocausto sem que isso acarrete uma certa dose de anti-semitismo. Assim como não acho possível fazer cartoons de Maomé sem que tal gesto contenha a sua dose de islamofobia.
Nenhum gesto que tenhamos - a liberdade de expressão, por exemplo - vive no vazio. Somos cultura, produto e produtores de cultura, e por isso tudo o que fazemos/dizemos tem valor em contexto.
Insisto nisto porque a defesa radical que está a ser feita da liberdade de expressão contém em si o germe da barbárie. Do gesto sem cultura, da pulsão animal.
[Em desacordo, A Arte da Fuga?]
É óbvio que não faz sentido. Mas - sim, sou dos que usam muito o mas... - a resposta que me deu o Paulo Gorjão [Bloguitica] toca exactamente no ponto a que queria chegar. Diz ele, citando Ralf Dahrendorf: «In my view, Holocaust denial should not be outlawed, in contrast to the demand for all, or any, Jews to be killed.»
O problema é que eu acho que uma coisa nunca pode ser totalmente desligada da outra. Ou seja, apenas em teoria acho possível que alguém ponha em causa o Holocausto sem que isso acarrete uma certa dose de anti-semitismo. Assim como não acho possível fazer cartoons de Maomé sem que tal gesto contenha a sua dose de islamofobia.
Nenhum gesto que tenhamos - a liberdade de expressão, por exemplo - vive no vazio. Somos cultura, produto e produtores de cultura, e por isso tudo o que fazemos/dizemos tem valor em contexto.
Insisto nisto porque a defesa radical que está a ser feita da liberdade de expressão contém em si o germe da barbárie. Do gesto sem cultura, da pulsão animal.
[Em desacordo, A Arte da Fuga?]
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
The eagle is flying to Liverpool
O blogue é lindo. E ainda por cima tem posts destes:
Look, grandmother, the eagle is flying to Liverpool city.
Irreproduzível
Estou a ouvir o Je t'aime moi non plus, em inglês, na versão de Cat Power e Karen Elson. Integra o disco Monsieur Gainsbourg Revisited, a sair nos próximos dias. Ah... a versão em inglês chama-se I love you (me either).
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
As leis do Pacheco
Anda por aí uma suave polémica acerca das famosas leis de Pacheco Pereira.
Eu acho-lhes graça. Se aquilo fosse música, era um jazz entre o reflexivo e o divertido, nunca uma composição clássica com os seus rigores.
Pacheco divertiu-se a escrever aquilo e isso nota-se. Os exercícios de auto-ironia são mais raros do que se pensa/admite. Não é só o Pacheco...
Depois, a realidade não é bem assim. Pois, a realidade nunca é bem assim. A propósito, o que é a realidade?
[no Mau Tempo no Canil, outro apontamento sobre o mesmo tema]
Eu acho-lhes graça. Se aquilo fosse música, era um jazz entre o reflexivo e o divertido, nunca uma composição clássica com os seus rigores.
Pacheco divertiu-se a escrever aquilo e isso nota-se. Os exercícios de auto-ironia são mais raros do que se pensa/admite. Não é só o Pacheco...
Depois, a realidade não é bem assim. Pois, a realidade nunca é bem assim. A propósito, o que é a realidade?
[no Mau Tempo no Canil, outro apontamento sobre o mesmo tema]
How Do I Love Thee?
A Atlantic (formerly known as The Atlantic Monthly) decidiu fazer um dossier sobre o amor. As coisas que passam pela cabeça dos jornalistas... Vai daí, que foto haveriam eles de escolher para a primeira página?
[Infelizmente, o acesso Net é apenas para assinantes, mas o texto da capa é elucidativo: online dating has become as enormous social experiment - and it is allowing scientists to unlock the secrets of human attraction].
[Infelizmente, o acesso Net é apenas para assinantes, mas o texto da capa é elucidativo: online dating has become as enormous social experiment - and it is allowing scientists to unlock the secrets of human attraction].
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
Os pobres de Lula
Pela segunda semana consecutiva, a Veja dá conta de sondagens favoráveis à reeleição de Lula. Na desta semana, o actual PR bate todos, incluindo José Serra, mesmo à segunda volta.
A Veja insiste, também há duas semanas, que Lula só consegue a reeleição à custa dos mais pobres - os que recebem a Bolsa Família (uma espécie de rendimento mínimo garantido). Apesar dos escândalos de corrupção que envolvem Lula e o PT, os mais pobres ainda acreditam em Lula. A Veja acha que isso é um escândalo, mas a Veja é parte do sistema em vigor há décadas na América Latina, em que aqueles que estão por cima teimam em não perceber as escolhas dos que estão por baixo. No Brasil, na Venezuela, na Bolívia...
A Veja insiste, também há duas semanas, que Lula só consegue a reeleição à custa dos mais pobres - os que recebem a Bolsa Família (uma espécie de rendimento mínimo garantido). Apesar dos escândalos de corrupção que envolvem Lula e o PT, os mais pobres ainda acreditam em Lula. A Veja acha que isso é um escândalo, mas a Veja é parte do sistema em vigor há décadas na América Latina, em que aqueles que estão por cima teimam em não perceber as escolhas dos que estão por baixo. No Brasil, na Venezuela, na Bolívia...
Fora da Ordem
A propósito de um parecer do Conselho Deontológico (CD) do Sindicato dos Jornalistas (SJ) gerou-se, nos blogues dos ditos (jornalistas: O insubmisso, Corta-fitas, Fonte das Virtudes, Glória Fácil...), um curioso debate que, a meu ver, está completamente ao lado do essencial.
O parecer é um absurdo total e nem me detenho muito a discutir o seu conteúdo. Até porque o conteúdo é perfeitamente secundário - o que importa para o caso é o contexto. E o contexto é que a Lusa está em mudança de ciclo (político) e o CD decidiu deixar-se instrumentalizar de uma forma totalmente despudorada.O problema fundamental com o CD e com o SJ é que ambos estão entregues, há décadas, a uma clique, muito pouco representativa do mundo real das redacções da actualidade. E está entregue a uma clique porquê? Simplesmente porque os milhares que exercem a profissão se estão perfeitamente nas tintas para estas coisas do colectivo. Quantas listas têm concorrido às eleições para o CD e o SJ?
Ora eu não percebo em quê é que a mudança de nome ou de estatuto (a Ordem) poderia mudar este estado das coisas. Alguém imagina que, com a criação da ordem, haveria um súbito interesse de uma data de gente em perder umas horas por semana a discutir, de forma serena e estruturada, o exercício da profissão? Não brinquem comigo...
[in http://www.mautemponocanil.blogspot.com/, 21 Fev 06]
O parecer é um absurdo total e nem me detenho muito a discutir o seu conteúdo. Até porque o conteúdo é perfeitamente secundário - o que importa para o caso é o contexto. E o contexto é que a Lusa está em mudança de ciclo (político) e o CD decidiu deixar-se instrumentalizar de uma forma totalmente despudorada.O problema fundamental com o CD e com o SJ é que ambos estão entregues, há décadas, a uma clique, muito pouco representativa do mundo real das redacções da actualidade. E está entregue a uma clique porquê? Simplesmente porque os milhares que exercem a profissão se estão perfeitamente nas tintas para estas coisas do colectivo. Quantas listas têm concorrido às eleições para o CD e o SJ?
Ora eu não percebo em quê é que a mudança de nome ou de estatuto (a Ordem) poderia mudar este estado das coisas. Alguém imagina que, com a criação da ordem, haveria um súbito interesse de uma data de gente em perder umas horas por semana a discutir, de forma serena e estruturada, o exercício da profissão? Não brinquem comigo...
[in http://www.mautemponocanil.blogspot.com/, 21 Fev 06]
Memo
É só para lembrar que, enquanto discutimos futilidades, alguém continua apostado em prestar serviço público. Um grande bem haja.
terça-feira, fevereiro 21, 2006
m & m
Nenhum líder de nenhum partido da oposição é alternativa credível a um governo com maioria absoluta a três anos de eleições.
Radar on line
A melhor rádio do mundo, perdão, de Lisboa, já pode ser ouvida em todo o mundo: http://radarlisboa.fm/.
No sound, good news
Estou a deixar de ler blogues com música. Dos que disparam automaticamente e mesmo dos outros. Nas últimas semanas, o Explorer e o Mozilla bloqueiam sistematicamente quando tento aceder a esses blogues. Na minha infinita ignorância, atribuo esses problemas ao facto de a maioria desses blogues utilizarem música pirateada a partir de sítios mais que duvidosos. Até que o assunto esteja resolvido/esclarecido, evitarei tais blogues. Aliás, na quase totalidade dos casos, as escolhas musicais são de uma banalidade confrangedora. Eu, que gosto de música, detesto cada vez mais os centros comerciais e locais conexos onde me impõem fundos musicais. Porque haveria de o tolerar nos blogues?
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Outras liberdades
Faz sentido condenar alguém à prisão por defender uma tese, por mais absurda que possa ser?
Dirijo a questão, obviamente, aos que defendem vivermos num tempo e num lugar em que a liberdade, nomeadamente a de expressão, pode ser absoluta.
Dirijo a questão, obviamente, aos que defendem vivermos num tempo e num lugar em que a liberdade, nomeadamente a de expressão, pode ser absoluta.
A opinião do fim-de-semana
Estive a dar uma vista de olhos pela opinião do fim-de-semana, o fim-de-semana tem opinião que se farta. Trata-se, porém, de um exercício de uma relativa inutilidade. Tudo previsível - os opinadores têm taras. Já nem é tanto ideologia, ou alinhamento partidário. São taras mesmo - temas fétiche, ódios de estimação. É dessa matéria-prima que se faz a opinião em Portugal. Há quem, na prática, ande a escrever o mesmo artigo há anos. A realidade vai-se encarregando de criar factos que confirmam aquilo que o opinador já pensava. E é fácil: basta que se faça como a maioria, que se não se tente sequer perceber a complexidade do real, que só se veja o que se quer. E que dessa ínfima parte do real, já sob um olhar pré-formatado, se elabore a tese. A tese do costume, é certo. Há quem escreve sempre sobre o mesmo tema, quem escreva sempre sob o mesmo ângulo e quem escreve sempre com o fito de atingir a mesma pessoa, ou grupo limitado de pessoas. Ler a opinião, principalmente ao fim-de-semana, é, por isso, um exercício fútil. A não ser que, à semelhança dos opinadores, tenhamos que semanalmente reconfirmar as nossas taras - através dos textos dos outros, confirmarmos que tudo está no seu sítio e que podemos continuar a pensar o mesmo, porque nada nunca muda.
domingo, fevereiro 19, 2006
Incompetência perfeitamente constitucional
As empresas públicas e aparentadas já não respeitam ninguém. No Expresso, Clara Ferreira Alves queixa-se de que a PT cobra em excesso, no Espectro, Vasco Pulido Valente queixa-se de que a Epal se corta no fornecimento. Agora que a Constituição é chamada para tudo e para nada, para os casamentos gay e para as taxas da saúde, cabe registar que tal comportamento incompetente por parte das empresas se enquadra perfeitamente no preceito constitucional da igualdade de sexos, raças, contas bancárias, exposição televisiva, etc e tal.
Netizen
Vous tenes entre les mains un OVNI de la presse. É assim que começa o primeiro editorial da Netizen, uma nova revista francesa destinada a «comprendre et décrypter [todos os media franceses adoptaram recentemente esta expressão...] da révolution blog».
Que eu conheça, é a primeira publicação em papel (mensal) dedicada aos blogues. Neste primeiro número, o dossier central é dedicado aos políticos (franceses) com blogue, numa espécie de antevisão das presidenciais de 2007. Mas a revista tem muitas outras coisas interessantes.
O título é uma daquelas coisas extraordinariamente francesas: Netizen resulta da contracção de Net com Citizen, ou seja, o cidadão da Net. Sendo uma ideia interessante, e que resume bem o fenómeno blog, não deixa de ser uma coisa assim como que dada ao pingarelho.
A revista não está on-line, mas tem um blog, obviamente: http://www.pointblog.com/netizen/, onde ficamos a saber que a UMP (Sarkozy, quem haveria de ser?) já se apropriou da expressão netizen, e que o segundo número vai dedicar-se à polémica dos cartoons de Maomé vista através dos blogues.
Que eu conheça, é a primeira publicação em papel (mensal) dedicada aos blogues. Neste primeiro número, o dossier central é dedicado aos políticos (franceses) com blogue, numa espécie de antevisão das presidenciais de 2007. Mas a revista tem muitas outras coisas interessantes.
O título é uma daquelas coisas extraordinariamente francesas: Netizen resulta da contracção de Net com Citizen, ou seja, o cidadão da Net. Sendo uma ideia interessante, e que resume bem o fenómeno blog, não deixa de ser uma coisa assim como que dada ao pingarelho.
A revista não está on-line, mas tem um blog, obviamente: http://www.pointblog.com/netizen/, onde ficamos a saber que a UMP (Sarkozy, quem haveria de ser?) já se apropriou da expressão netizen, e que o segundo número vai dedicar-se à polémica dos cartoons de Maomé vista através dos blogues.
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
As botas, o Eleito
Já o João Gonçalves se preparava para dar de frosques com as suas lindas botas... e eis que se lembrou do Eleito. Fica, portanto...
Mas que raio de associação que eu fui fazer. As botas, o Eleito...
Mas que raio de associação que eu fui fazer. As botas, o Eleito...
Da relatividade das coisas
O Ocidente é mais civilizado que tudo o resto. Provisoriamente isto importa e muito. Dá-nos mais higiene e melhor prestação de serviços. Não devemos abdicar da higiene e da boa prestação de serviços. Em termos absolutos a conversa é outra. Deus pouco se interessa pela higiene e pela correcta prestação de serviços. Para Deus o salivante árabe vale o mesmo que o justo tibetano. Quer Bento XVI quer Robert Mugabe carecerão da misericórdia divina no Dia do Juízo sem que possam influir grande coisa no veredicto. Mas isto é da fé. O que sobra, e com todo o respeito pelos meus amigos que discordam, é de pouca valia no câmbio eterno. Útil mas de pouca valia.
in Voz do Deserto.
in Voz do Deserto.
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Talibãs
Tinha de acontecer (tinha mesmo???): nos debates sobre os cartoons e o Islão começam a surgir referências, umas mais explícitas que outras, aos «bons» e aos «maus» ocidentais.
terça-feira, fevereiro 14, 2006
11.ª lei (enteada...) da blogosfera
Apenas uma ínfima parte da blogosfera (a mediática) obedece a leis.
O choque de civilizações (II)
dito de outra forma:
«Resta saber (e é esta a minha dúvida) se as relações de poder tornam secundárias as razões de ordem cultural ou se ambas se reforçam num contexto “civilizacional”. Ou seja, se o fundamentalismo religioso que hoje anima o Islão não é um instrumento essencial para se compreender não tanto as exigências do Irão (por exemplo), mas a força com que essas exigências se apresentam na cena internacional.»
Constança Cunha e Sá, in O Espectro.
«Resta saber (e é esta a minha dúvida) se as relações de poder tornam secundárias as razões de ordem cultural ou se ambas se reforçam num contexto “civilizacional”. Ou seja, se o fundamentalismo religioso que hoje anima o Islão não é um instrumento essencial para se compreender não tanto as exigências do Irão (por exemplo), mas a força com que essas exigências se apresentam na cena internacional.»
Constança Cunha e Sá, in O Espectro.
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
O choque de civilizações
O Paulo Gorjão [Bloguitica] decidiu tirar o Huntington da prateleira para, não apenas demonstrar que a sua tese do choque de civilizações não faz tanto sentido como parece, mas principalmente que está a ser deturpada nos debates em curso sobre os cartoons e o islamismo. Talvez... No entanto:
1. Não haverá actualmente um conflito supranacional, no qual encaixam os conflitos concretos mais mediáticos, que mais não é que um conflito entre civilizações?
2. Não será a face mais visível desse conflito - o terrorismo global - um conflito civilizacional puro, no qual as questões económicas, por exemplo, são relegadas para segundo plano?
3. Não haverá, à escala mundial, outros focos de conflito que apenas não eclodem porque lhes falta ignição civilizacional?
4. Porque deixam os EUA crescer à sua porta um regime pré-ditatorial, retoricamente ameaçador (o que não é desprezível no mundo actual - a retórica incendeia multidões), e que até a gigantesca arma do petróleo ao seu dispôr? Falo, é óbvio, da Venezuela de Chávez.
5. Porque se preocupa tanto a Agência da Energia Atómica, os EUA e a Europa com o Irão, mas não com a Coreia do Norte? Não seria possível construir para este país o mesmo clima de tensão que tem vindo a ser encenado (não desvalorizo a ameaça, atenção) face a Teerão?
6. O facto de não eclodirem conflitos com outras grandes civilizações - a China, por exemplo - não resulta, entre outros factores, de todas as energias da civilização ocidental (chamemos-lhe assim...) estarem concentradas no combate ao Islão (ainda para mais, não teremos sido nós a declarar a guerra - fomos para ela desafiados)?
1. Não haverá actualmente um conflito supranacional, no qual encaixam os conflitos concretos mais mediáticos, que mais não é que um conflito entre civilizações?
2. Não será a face mais visível desse conflito - o terrorismo global - um conflito civilizacional puro, no qual as questões económicas, por exemplo, são relegadas para segundo plano?
3. Não haverá, à escala mundial, outros focos de conflito que apenas não eclodem porque lhes falta ignição civilizacional?
4. Porque deixam os EUA crescer à sua porta um regime pré-ditatorial, retoricamente ameaçador (o que não é desprezível no mundo actual - a retórica incendeia multidões), e que até a gigantesca arma do petróleo ao seu dispôr? Falo, é óbvio, da Venezuela de Chávez.
5. Porque se preocupa tanto a Agência da Energia Atómica, os EUA e a Europa com o Irão, mas não com a Coreia do Norte? Não seria possível construir para este país o mesmo clima de tensão que tem vindo a ser encenado (não desvalorizo a ameaça, atenção) face a Teerão?
6. O facto de não eclodirem conflitos com outras grandes civilizações - a China, por exemplo - não resulta, entre outros factores, de todas as energias da civilização ocidental (chamemos-lhe assim...) estarem concentradas no combate ao Islão (ainda para mais, não teremos sido nós a declarar a guerra - fomos para ela desafiados)?
domingo, fevereiro 12, 2006
Teddy bear ?
Eu começo a duvidar que haja alguma seriedade no mundo. Andava à procura de uma foto e tentei a respeitabilíssima Getty. Vejam o que me surgiu na frontpage:
Pequeno apontamento a atirar para o homófobo
Percebo agora porque, nos filmes de cóbois, sempre simpatizei mais com os índios.
sábado, fevereiro 11, 2006
There are no little secrets
Só hoje reparei no anúncio original do filme: There are no little secrets.
Nola Rice: I don't think this is a good idea. You shouldn't have followed me here.
Chris Wilton: Do you feel guilty?
Nola Rice: Do you?
[they kiss].
Nola Rice: I don't think this is a good idea. You shouldn't have followed me here.
Chris Wilton: Do you feel guilty?
Nola Rice: Do you?
[they kiss].
sexta-feira, fevereiro 10, 2006
Uma insistência
Tenho com Constança Cunha e Sá um conflito de utopias. Circunstancial, apesar de tudo.
CCS acha que a liberdade pode ser exercida sem amarras. Eu insisto na responsabilidade.
Ambos sabemos que aquilo que defendemos em tese tem pouca possibilidade de sobrevivência no mundo real. Daí a utopia. Penso que seja circunstancial porque o campo de entendimento é mais vasto do que parece num olhar apressado.
Divide-nos, circunstancialmente, a questão islâmica. Eu acho que o Ocidente, ponhamos as coisas assim, não necessita de escarnecer, ou sequer tomar a iniciativa, para demonstrar a sua especificidade (alguns chamar-lhe-ão superioridade, conceito que me parece perigoso, mas que admito com limitações). A CCS, neste caso, alinha pela bitola claramente maioritária entre a intelectualidade, e que consiste em declarar-se em guerra contra os infiéis (eu sei, nem todos assumem a coisa assim).
Isto é, digamos, o enquadramento. Não fujo, porém, às questões que me levanta na sua réplica.
Não, não acho que se deva proibir a publicação das blasfémias. Não, não acho que qualquer governo deva responder, seja em que circunstância fôr, por actos de jornalistas. Reafirmá-lo parece-me, aliás, da ordem do absurdo.
Ficamos, então, num beco sem saída? Admito. Eu insisto na questão da responsabilidade e na necessidade de se atender ao contexto. E, obviamente, no contexto do nosso mundo, não quero impôr isso a ninguém. Mas não deixo de o defender, de esperar que, num conjunto de matérias que têm a ver com a nossa matriz civilizacional (e com a nossa sobrevivência...), cada um perceba as possibilidades e os limites da sua acção.
CCS acha que a liberdade pode ser exercida sem amarras. Eu insisto na responsabilidade.
Ambos sabemos que aquilo que defendemos em tese tem pouca possibilidade de sobrevivência no mundo real. Daí a utopia. Penso que seja circunstancial porque o campo de entendimento é mais vasto do que parece num olhar apressado.
Divide-nos, circunstancialmente, a questão islâmica. Eu acho que o Ocidente, ponhamos as coisas assim, não necessita de escarnecer, ou sequer tomar a iniciativa, para demonstrar a sua especificidade (alguns chamar-lhe-ão superioridade, conceito que me parece perigoso, mas que admito com limitações). A CCS, neste caso, alinha pela bitola claramente maioritária entre a intelectualidade, e que consiste em declarar-se em guerra contra os infiéis (eu sei, nem todos assumem a coisa assim).
Isto é, digamos, o enquadramento. Não fujo, porém, às questões que me levanta na sua réplica.
Não, não acho que se deva proibir a publicação das blasfémias. Não, não acho que qualquer governo deva responder, seja em que circunstância fôr, por actos de jornalistas. Reafirmá-lo parece-me, aliás, da ordem do absurdo.
Ficamos, então, num beco sem saída? Admito. Eu insisto na questão da responsabilidade e na necessidade de se atender ao contexto. E, obviamente, no contexto do nosso mundo, não quero impôr isso a ninguém. Mas não deixo de o defender, de esperar que, num conjunto de matérias que têm a ver com a nossa matriz civilizacional (e com a nossa sobrevivência...), cada um perceba as possibilidades e os limites da sua acção.
The Duck
Os olhos de Bárbara
A imagem mais perturbante dos últimos tempos é a de Bárbara Guimarães num spot da SIC. Bárbara passeia-se por uma sinuosa livraria, fingindo ler, olhar no vazio. Finge que lê e passeia sem tropeçar nas estantes, finge que lê sem olhar para o livro. Declama, declama, desalmadamente. E, no final, posa em frente à câmara, sem nos olhar, continua fixa no vazio. Talvez ainda declamando, agora apenas mentalmente. Deveras perturbante.
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
Jornalistas e jornalistas
Constança Cunha e Sá tem razão: com a fé das pessoas não brinco, nem acho graça que brinquem. E há outras coisas com as quais não brinco. Mania de ter valores, talvez. Nada a fazer. CCS, presumo, acha que não existem territórios interditos. Acho que está errada e acho que, se pensar 30 segundos, encontrará, na sua vida pessoal e profissional, um número sem fim de territórios em que não arrisca brincar...
Outra coisa são as críticas aos sistemas religiosos, às instituições. Por exemplo, à igreja católica, que exerce no nosso mundo uma influência que ultrapassa, em muito, o plano religioso. Em relação a isso, nada a opor. Estamos no terreno na política.
No caso concreto destes cartoons, penso que se trata de outra coisa: é puro achincalhamento, provocação. O que, no actual contexto de enorme tensão com o mundo islâmico, me parece dispensável.
Não defendo, obviamente, qualquer tipo de censura, nem tenho outra solução que não passe pelo bom senso, ou pela responsabilidade.
[Eu sei que as palavras «contexto» e «responsabilidade» causam urticária em certas mentes. Relativismo moral? Seja.]
À boleia da polémica, CCS tece uma série de considerações, que me dispenso de cartoonizar, sobre o jornalismo.
Tento fazer jornalismo responsável (oops, I did it again...). «Bem comportado», diria CCS. Não penso que para fazer jornalismo seja necessário ter atestado de mau comportamento e fico desconfiado de quem pratica jornalismo justiceiro. Ao contrário do que CCS imagina – que raio de visão totalitária das coisas... – o meu jornalismo não exclui qualquer outro. Eu faço o que faço, outros farão o que entenderem.
Estou é convencido de que o jornalismo que faço – e esta é a principal discordância com CCS – é mais difícil de fazer e comporta mais riscos. Porque, ao contrário do que CCS escreve, não é este o jornalismo das grandes tiragens e porque – CCS até sabe isso... – não alinhar por baixo, trabalhar o mainstream, é bem mais complicado do que publicar umas larachas, umas fotos, umas bonecadas, umas histórias manhosas.
Mas nisto, como no resto, não tenho a pretensão de doutrinar ninguém. Nem no jornalismo, nem na democracia, nem na maneira como cada um vive a sua religião.
Outra coisa são as críticas aos sistemas religiosos, às instituições. Por exemplo, à igreja católica, que exerce no nosso mundo uma influência que ultrapassa, em muito, o plano religioso. Em relação a isso, nada a opor. Estamos no terreno na política.
No caso concreto destes cartoons, penso que se trata de outra coisa: é puro achincalhamento, provocação. O que, no actual contexto de enorme tensão com o mundo islâmico, me parece dispensável.
Não defendo, obviamente, qualquer tipo de censura, nem tenho outra solução que não passe pelo bom senso, ou pela responsabilidade.
[Eu sei que as palavras «contexto» e «responsabilidade» causam urticária em certas mentes. Relativismo moral? Seja.]
À boleia da polémica, CCS tece uma série de considerações, que me dispenso de cartoonizar, sobre o jornalismo.
Tento fazer jornalismo responsável (oops, I did it again...). «Bem comportado», diria CCS. Não penso que para fazer jornalismo seja necessário ter atestado de mau comportamento e fico desconfiado de quem pratica jornalismo justiceiro. Ao contrário do que CCS imagina – que raio de visão totalitária das coisas... – o meu jornalismo não exclui qualquer outro. Eu faço o que faço, outros farão o que entenderem.
Estou é convencido de que o jornalismo que faço – e esta é a principal discordância com CCS – é mais difícil de fazer e comporta mais riscos. Porque, ao contrário do que CCS escreve, não é este o jornalismo das grandes tiragens e porque – CCS até sabe isso... – não alinhar por baixo, trabalhar o mainstream, é bem mais complicado do que publicar umas larachas, umas fotos, umas bonecadas, umas histórias manhosas.
Mas nisto, como no resto, não tenho a pretensão de doutrinar ninguém. Nem no jornalismo, nem na democracia, nem na maneira como cada um vive a sua religião.
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
Edição Especial (II)
«Three girls in a bed is a bedful of girls, but two girls in a bed are lesbians.
At the end of the shoot, Annie asked me to slip into the picture as my contributor's photo», says Ford.
At the end of the shoot, Annie asked me to slip into the picture as my contributor's photo», says Ford.
Edição Especial
Scarlett Johansson, Keira Knightley e Tom Ford, fotografados por Annie Leibovitz para a Vanity Fair. Tom Ford substituiu Rachel Adams, que desistiu...
terça-feira, fevereiro 07, 2006
Chorarei no regresso dos caixões
Lêem, comentam, mas não linkam. O que, neste microcosmos em que nos movemos, diz muito sobre a coragem e a responsabilidade.
Por mim, ficarei sentado à beira Tejo (puro romantismo - hoje é mais Portela..) quando os novos cruzados partirem.
Por mim, ficarei sentado à beira Tejo (puro romantismo - hoje é mais Portela..) quando os novos cruzados partirem.
Até já
Entre directas e indirectas, anda por aí poeira qb à volta dos cartoons. Poeira eu sopro. Não tenho é tempo agora. Dito de outra forma: tenho liberdade, mas faltam-me as condições. O raio da liberdade, que nunca é absoluta. Nem a de escrever num blogue...
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
Uma foto que (ainda) não mostro ao meu filho
1. A liberdade não é valor absoluto. Nenhum valor é absoluto. Nos sistemas totalitários, aí sim, há valores absolutos. No Islão, só há Alá. Aqui não. Há Deus, mas há Buda e até há Alá.
2. Os valores, como a liberdade, sofrem, na própria dinâmica social e política, constrangimentos vários. Quando chocam com outros, por exemplo. Ou quando põem em causa a liberdade dos outros. Os jornalistas, por exemplo, sabem que, sendo a liberdade de expressão valor de ouro na sua profissão, devem suspendê-la quando isso põe em causa vidas humanas, ou a mera segurança de outras pessoas. Dou outro exemplo: pichar cemitérios judaicos parece-me exercício de mau gosto, mas possível à luz da liberdade absoluta. Vamos permiti-lo?
3. A responsabilidade parece-me ser a melhor maneira de intermediar o problema. Outros chamar-lhe-ão bom senso. Viver em sociedade, partilhar, é isso.
4. Tudo depende, enfim, do contexto. Insisto: há coisas que se podem fazer, ou dizer, em certas circunstâncias e não se podem fazer noutras.
5. No contexto actual, parece-me que fazer caricaturas de Maomé só ajuda a agudizar as tensões já existentes entre o nosso mundo e o mundo deles.
6. A nossa civilização, pretendendo-se não hegemónica, intercultural, and so on, deve adoptar, em casos de conflitos envolvendo um aspecto tão delicado como a religião, uma perspectiva confrontacional, ou, antes, de apaziguamento?
7. E, já agora, o resultado prático dos nossos actos não conta? Com o caso do cartoon não demos mais força aos radicais do Islão? Novamente, o problema da responsabilidade.
Tudo isto me parece relativamente simples. É por isso, caro Paulo [Bloguitica], que aprecio a ideia do cartaz acima, mas não o mostro ou discuto com o meu filho. Por causa da idade (dele...). O maldito do contexto.
2. Os valores, como a liberdade, sofrem, na própria dinâmica social e política, constrangimentos vários. Quando chocam com outros, por exemplo. Ou quando põem em causa a liberdade dos outros. Os jornalistas, por exemplo, sabem que, sendo a liberdade de expressão valor de ouro na sua profissão, devem suspendê-la quando isso põe em causa vidas humanas, ou a mera segurança de outras pessoas. Dou outro exemplo: pichar cemitérios judaicos parece-me exercício de mau gosto, mas possível à luz da liberdade absoluta. Vamos permiti-lo?
3. A responsabilidade parece-me ser a melhor maneira de intermediar o problema. Outros chamar-lhe-ão bom senso. Viver em sociedade, partilhar, é isso.
4. Tudo depende, enfim, do contexto. Insisto: há coisas que se podem fazer, ou dizer, em certas circunstâncias e não se podem fazer noutras.
5. No contexto actual, parece-me que fazer caricaturas de Maomé só ajuda a agudizar as tensões já existentes entre o nosso mundo e o mundo deles.
6. A nossa civilização, pretendendo-se não hegemónica, intercultural, and so on, deve adoptar, em casos de conflitos envolvendo um aspecto tão delicado como a religião, uma perspectiva confrontacional, ou, antes, de apaziguamento?
7. E, já agora, o resultado prático dos nossos actos não conta? Com o caso do cartoon não demos mais força aos radicais do Islão? Novamente, o problema da responsabilidade.
Tudo isto me parece relativamente simples. É por isso, caro Paulo [Bloguitica], que aprecio a ideia do cartaz acima, mas não o mostro ou discuto com o meu filho. Por causa da idade (dele...). O maldito do contexto.
Liberdade
Ponho-me na perspectiva de pai. De quem explica, perante as pequenas e grandes asneiras da juventude, que a liberdade implica sempre responsabilidade. Que liberdade sem responsabilidade é coisa de animais irracionais. Que nós, seres inteligentes, aprendemos a utilizar a liberdade em contexto, ou seja, a sermos responsáveis, a medirmos os nossos actos. Que há coisas que podemos fazer em casa mas não na rua, coisas que podemos dizer aos amigos mas não aos pais....
Descubro agora que a liberdade é, afinal, um valor absoluto, não contextualizável. Felizmente, os meus filhos não lêem blogues.
Descubro agora que a liberdade é, afinal, um valor absoluto, não contextualizável. Felizmente, os meus filhos não lêem blogues.
domingo, fevereiro 05, 2006
O poder da gata
Alguém me sabe explicar a razão pela qual nunca tinha ouvido falar da menina Charlyn Marshall, mais conhecida por Cat Power e cujo mais recente disco se chama The Greatest e que pode ser ouvido aqui?
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
A blasfémia
Não sou homem de fé. A religião nada me diz. Mas eu também nada digo à religião. A última coisa que me passaria pela cabeça seria entrar numa lógica de provocação, ou desafio.
Vejo na religião um conjunto mais ou menos irracional de coisas íntimas. E eu coisas íntimas não discuto. Abro uma excepção para a religião católica - é a do meu mundo e, no meu mundo, é mais que religião. É cultura, é sociedade, é política. Comento, por isso, a carcaça institucional da igreja católica, mas evito tocar nas questões da fé.
[in Mau Tempo no Canil].
Vejo na religião um conjunto mais ou menos irracional de coisas íntimas. E eu coisas íntimas não discuto. Abro uma excepção para a religião católica - é a do meu mundo e, no meu mundo, é mais que religião. É cultura, é sociedade, é política. Comento, por isso, a carcaça institucional da igreja católica, mas evito tocar nas questões da fé.
[in Mau Tempo no Canil].
Rekiss me
Kiss me again, rekiss me and kiss me
Slip your frigid hands beneath my shirt
This useless old fucker with his twinkling cunt
Doesn't care if he gets hurt
[Nick Cave, Green Eyes, 1997 - The first line is an extract from a sonnet by Louise Labé]
Slip your frigid hands beneath my shirt
This useless old fucker with his twinkling cunt
Doesn't care if he gets hurt
[Nick Cave, Green Eyes, 1997 - The first line is an extract from a sonnet by Louise Labé]
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Aos pés delas
Descobri hoje, num post de um certo blogue, que a Ana usa botas militares. E falas-me tu de sapatos Balenciaga... A (des)propósito, quantas page views já tiveste hoje.
quarta-feira, fevereiro 01, 2006
With a little help...
Porra... só agora reparei. Estou a ficar fora do mainstream blogosférico. Ainda não escrevi uma linha sobre o amiguismo e a crítica.
Mau perder é isto, oh palermas !
Cavaco Silva, na noite das eleições e em pouco mais de uma hora, caiu dos 54% para pouco mais de 50. Mais exactamente, 50,59%. Ontem, o Tribunal Constitucional fixou o resultado oficial em 50,54%. Nem era preciso que a campanha durasse mais uma semana, bastava que o apuramento dos resultados se prolongasse mais uns dias e aí tínhamos uma segunda volta. Cavaco - ao que parece - tem uma certa atracção pela queda. Com um bocado de sorte, ainda perde as eleições durante o primeiro mandato.
Se cá nevasse
O Luís Sequeira [Abnegado] - numa caixa de comentários aí em baixo - insiste na ideia de que os noticiários deram tempo a mais à neve.
Este - a importância que os medias dão às coisas - é uma discussão cíclica nos blogues. Felizmente, desta vez, a conversa não gira à volta de qualquer tragédia ou exploração de dôr alheia...
A questão fundamental na televisão portuguesa - acho que é isso que está fundamentalmente em jogo - é a duração dos telejornais. Os países civilizados têm telejornais de meia hora. Por cá, chegamos a ter uma hora e meia e temos, em média, uma hora. Isso conduz a uma total distorção das coisas - o espaço de informação torna-se espaço de lazer. O chamado infotainment, que, em doses maiores ou menores, comporta a tabloidização.
Eu não gosto disto. Prefiro, de longe, as sínteses secas de informação. Que haja temas desenvolvidos em programas temáticos, é outra coisa. Que existam espaços (de manhã, à tarde, ou mesmo late night) em que a informação se distende e se cruza com passatempos, entrevistas, conversa, ou mesmo música, também aceito. Mas nada disto substitui o bom e velho noticiário.
No entanto, no contexto actual do funcionamento do sistema mediático, não me parece que o tempo/espaço dado à neve tenha sido demasiado. Foi um caso inesperado, que mexeu com muita gente. E há aquele lado quase mágico da neve num país de sol, que brinca com o nosso imaginário.
Este - a importância que os medias dão às coisas - é uma discussão cíclica nos blogues. Felizmente, desta vez, a conversa não gira à volta de qualquer tragédia ou exploração de dôr alheia...
A questão fundamental na televisão portuguesa - acho que é isso que está fundamentalmente em jogo - é a duração dos telejornais. Os países civilizados têm telejornais de meia hora. Por cá, chegamos a ter uma hora e meia e temos, em média, uma hora. Isso conduz a uma total distorção das coisas - o espaço de informação torna-se espaço de lazer. O chamado infotainment, que, em doses maiores ou menores, comporta a tabloidização.
Eu não gosto disto. Prefiro, de longe, as sínteses secas de informação. Que haja temas desenvolvidos em programas temáticos, é outra coisa. Que existam espaços (de manhã, à tarde, ou mesmo late night) em que a informação se distende e se cruza com passatempos, entrevistas, conversa, ou mesmo música, também aceito. Mas nada disto substitui o bom e velho noticiário.
No entanto, no contexto actual do funcionamento do sistema mediático, não me parece que o tempo/espaço dado à neve tenha sido demasiado. Foi um caso inesperado, que mexeu com muita gente. E há aquele lado quase mágico da neve num país de sol, que brinca com o nosso imaginário.