quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Jornalistas e jornalistas

Constança Cunha e Sá tem razão: com a fé das pessoas não brinco, nem acho graça que brinquem. E há outras coisas com as quais não brinco. Mania de ter valores, talvez. Nada a fazer. CCS, presumo, acha que não existem territórios interditos. Acho que está errada e acho que, se pensar 30 segundos, encontrará, na sua vida pessoal e profissional, um número sem fim de territórios em que não arrisca brincar...
Outra coisa são as críticas aos sistemas religiosos, às instituições. Por exemplo, à igreja católica, que exerce no nosso mundo uma influência que ultrapassa, em muito, o plano religioso. Em relação a isso, nada a opor. Estamos no terreno na política.
No caso concreto destes cartoons, penso que se trata de outra coisa: é puro achincalhamento, provocação. O que, no actual contexto de enorme tensão com o mundo islâmico, me parece dispensável.
Não defendo, obviamente, qualquer tipo de censura, nem tenho outra solução que não passe pelo bom senso, ou pela responsabilidade.
[Eu sei que as palavras «contexto» e «responsabilidade» causam urticária em certas mentes. Relativismo moral? Seja.]
À boleia da polémica, CCS tece uma série de considerações, que me dispenso de cartoonizar, sobre o jornalismo.
Tento fazer jornalismo responsável (oops, I did it again...). «Bem comportado», diria CCS. Não penso que para fazer jornalismo seja necessário ter atestado de mau comportamento e fico desconfiado de quem pratica jornalismo justiceiro. Ao contrário do que CCS imagina – que raio de visão totalitária das coisas... – o meu jornalismo não exclui qualquer outro. Eu faço o que faço, outros farão o que entenderem.
Estou é convencido de que o jornalismo que faço – e esta é a principal discordância com CCS – é mais difícil de fazer e comporta mais riscos. Porque, ao contrário do que CCS escreve, não é este o jornalismo das grandes tiragens e porque – CCS até sabe isso... – não alinhar por baixo, trabalhar o mainstream, é bem mais complicado do que publicar umas larachas, umas fotos, umas bonecadas, umas histórias manhosas.
Mas nisto, como no resto, não tenho a pretensão de doutrinar ninguém. Nem no jornalismo, nem na democracia, nem na maneira como cada um vive a sua religião.





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