terça-feira, setembro 26, 2006
Um post para analfabetos
Há um ano, neste mesmo local e perante a avalanche de incêndios que varria o País, escrevia-se que o Governo de José Sócrates, ao qual muitos já pediam contas, não deveria ser responsabilizado pela situação: "Os três meses que este Governo teve antes do início da época de incêndios são insuficientes para uma avaliação. Mas se, passada esta euforia das chamas, Sócrates fizer o mesmo que os seus antecessores - esquecer que é no resto do ano que se faz o trabalho -, teremos razões de sobra para o criticar no próximo Verão."
Recorda-se esta afirmação, porque, em Portugal, a generalidade dos protagonistas do espaço mediático joga permanentemente na falta de memória das pessoas. Não são apenas os políticos a esquecerem-se das promessas que fazem, são igualmente os comentadores e outros frequentadores dos media que, com grande à-vontade e por vezes até algum brilhantismo, dizem e contradizem tudo e mais alguma coisa.
Estamos então a caminhar a passos largos para o final da época de incêndios e começam a surgir os primeiros balanços globais. Haverá, é certo, sempre alguns factores perturbadores da análise - condições climatéricas, por exemplo -, mas a verdade é que, quanto à responsabilidade do Governo, já podem ser feitas algumas apreciações.
A área ardida este ano é um quinto da que foi consumida em 2005 e um terço da média dos últimos cinco anos. Estamos perante números significativos. Os agentes com responsabilidade no combate às chamas estão de parabéns, a começar pelo Governo, que definiu novas estratégias de combate e reorganizou e reequipou o sector.
Há, porém, um aspecto muito preocupante nos números que já se conhecem - as áreas protegidas continuam a ser das mais martirizadas. Se em 2005 foi a Estrela, este ano foi o Gerês. E as matas nacionais não escapam à sanha do fogo.
É certo que muito do que arde nessas áreas protegidas é propriedade privada, mas não terá o Estado especiais responsabilidades na prevenção de incêndios em zonas que declarou de especial interesse? Ou será que essas áreas estarão a ser vítimas dos próprios mecanismos de protecção que limitam a acção humana?
Quando o Estado, muito claramente, não consegue fazer cumprir a lei que obriga à limpeza das matas, não deveria o Governo ter um papel exemplar nas zonas que estão à sua guarda?
[Editorial DN de 7 de Setembro. Sublinhados de 26 de Setembro.]
Recorda-se esta afirmação, porque, em Portugal, a generalidade dos protagonistas do espaço mediático joga permanentemente na falta de memória das pessoas. Não são apenas os políticos a esquecerem-se das promessas que fazem, são igualmente os comentadores e outros frequentadores dos media que, com grande à-vontade e por vezes até algum brilhantismo, dizem e contradizem tudo e mais alguma coisa.
Estamos então a caminhar a passos largos para o final da época de incêndios e começam a surgir os primeiros balanços globais. Haverá, é certo, sempre alguns factores perturbadores da análise - condições climatéricas, por exemplo -, mas a verdade é que, quanto à responsabilidade do Governo, já podem ser feitas algumas apreciações.
A área ardida este ano é um quinto da que foi consumida em 2005 e um terço da média dos últimos cinco anos. Estamos perante números significativos. Os agentes com responsabilidade no combate às chamas estão de parabéns, a começar pelo Governo, que definiu novas estratégias de combate e reorganizou e reequipou o sector.
Há, porém, um aspecto muito preocupante nos números que já se conhecem - as áreas protegidas continuam a ser das mais martirizadas. Se em 2005 foi a Estrela, este ano foi o Gerês. E as matas nacionais não escapam à sanha do fogo.
É certo que muito do que arde nessas áreas protegidas é propriedade privada, mas não terá o Estado especiais responsabilidades na prevenção de incêndios em zonas que declarou de especial interesse? Ou será que essas áreas estarão a ser vítimas dos próprios mecanismos de protecção que limitam a acção humana?
Quando o Estado, muito claramente, não consegue fazer cumprir a lei que obriga à limpeza das matas, não deveria o Governo ter um papel exemplar nas zonas que estão à sua guarda?
[Editorial DN de 7 de Setembro. Sublinhados de 26 de Setembro.]