terça-feira, agosto 15, 2006

Um fogo antigo

Uma das vantagens de ter estado de férias por estes dias foi a de não me ter sentido obrigado a escrever sobre os incêndios. Nada percebo de política florestal, muito menos de combate a fogos e, sinceramente, entediam-me estas eternas discussões sobre seja o que for que acabam sempre reduzidas ao confronto político mais básico.
Por exemplo, a Economist dedicou um quarto de página aos fogos em Portugal, Espanha e França. Logo no título, avança: Could this year's summer fires have been prevented? Probably not. Se ler esta frase pela bitola de análise tão em voga em Portugal, chego à conclusão de que, sendo a Economist uma revista conservadora e estando os conservadores no poder nos três países referidos, estamos perante uma mera afirmação desculpabilizante. Governasse a esquerda e a Economist seguramente encontraria falhas gravíssimas de origem humana.
Prefiro, porém, pensar que os incêndios - ou melhor, os efeitos especialmente desvastadores destes incêndios - se devem a um antigo fogo que arde sem se ver no resto do ano. Um fogo que mistura explosivamente exageradas doses de incúria com uma total ausência de planeamento do território.

in Terras do Nunca, 19 de Agosto de 2003.





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