terça-feira, julho 04, 2006

Um caso de enviesamento

Tiago Barbosa Ribeiro [Kontratempos] considera que «os jornais, na sua ânsia de criarem realidades mediáticas que os inscrevam no espaço público mais como actores do que como mediadores, alienam a inteligência dos leitores numa agenda-setting ficcionada, evidente e triste.»
Como contraponto, TBR apresenta-nos o seu bisavô, «jornalista conceituado», um «provocador, com um prestígio que lhe permitia descer a Rua 31 de Janeiro discutindo com Salazar a bondade do ideário anarquista».
Ou seja, critica o alegado enviesamente do real pelos jornalistas da actualidade, enquanto elogia um antigo jornalista que nem sequer se limitava a escolher um ponto de vista, antes tentava intervir no próprio real. Esclarecedor...
O espírito do texto prolonga-se, de resto, pelos comentários, onde alguém apresenta como contraponto à «manipulação das notícias» dos dias de hoje nada mais nada menos que Maria Lamas, cujas qualidades de escrita e outras não podem ser postas em causa, mas cuja «isenção», «distanciamento», chamem-lhe o que quiserem, não podem, obviamente, servir de exemplo. Tratava-se de uma intelectual com uma causa, ou com causas, se quiserem. Ou seja, o mais perfeito exemplo de agenda-setting.
A comparação que TBR faz com a Galiza enferma do mesmo tipo de enviesamento. Há mais leitores na Galiza? O tal «mau jornalismo» é o culpado de tal coisa? Será só nos jornais e nos jornalistas que a Galiza nos passou a perna nas últimas duas décadas? E, já que falamos em Espanha, o facto de o El Pais ser o gigante que é terá alguma coisa a ver com o seu evidente agenda-setting pró-socialista?
[Como exemplo de mau jornalismo, TBR apresenta um texto do Diário de Notícias que, obviamente, não leu. Trata-se de um texto neutro, uma descrição seca de um conjunto de acontecimentos. Poderá o TBR dar exemplos do que chama de «tom enviesado e oficioso»? - Declaração de interesses: lembro os mais distraídos que tenho responsabilidade editoriais no DN.]





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