terça-feira, julho 04, 2006
Dos jornais e do resto
O Tiago Barbosa Ribeiro [Kontratempos] volta ao Imprensa na Prensa com um longo texto que, obviamente, daria pano para mangas. Alguns apontamentos, para já:
1. Timor. À parte a frente televisiva, sempre mais dada a componentes emocionais e a um enorme superficialismo, a cobertura da recente crise pela generalidade dos media portugueses pareceu-me positiva. Pobre de início - ninguém tem lá correspondentes permanentes -, mas depois mais extensiva e completa. Foram ouvidos protagonistas [Alkatiri, por exemplo, era raro o dia em que não tinha uma entrevista publicada em Portugal] e especialistas, numa tentativa de explicar algo que, verdadeiramente, ainda ninguém percebeu. Na imprensa portuguesa, li mais perplexidades que certezas, o que, tendo em conta a situação concreta, me parece de elogiar. Penso que não vale a pena comparar a cobertura feita em Portugal com aquela que foi feita, por exemplo, no Brasil - há muitas coisas que não conheço: o Estado tem lá correspondente, a cobertura do Estado foi todos os dias assim? Enfim, demasiadas incógnitas...
A ideia que tenho é que os portugueses ficaram, após esta crise, com uma percepção diferente de Timor-Leste. E que, nessa percepção, a estrela de Xanana perdeu algum brilho. E isso só se pode dever aos media. Pelo que não percebo tanta preocupação com um alegado enviesamento.
2. A filha de Sampaio. O facto de a filha de um PR (saído há seis meses...) ter sido contratada pelo Governo seria notícia em todo o mundo. No mundo anglo-saxónico, tal nomeação seria escrutinada até ao tutano. Assim como o facto de um ex-assessor do PR ser hoje assessor de um grande empresário. A notícia, em si, nada tem de acusatório - os factos devem ser expostos e os protagonistas devem explicar-se. Os leitores que tirem as conclusões. Aos media compete escrutinar os poderes, tudo o que tem a ver com os poderes e não seja da esfera íntima. Por muito que custe a admitir ao TBR, a notícia em causa diz mais sobre o funcionamento da política e da sociedade em Portugal do que outras de aparente maior importância [disclaimer: o jornal onde trabalho dedicou, salvo erro, oito linhas ao assunto].
3. O jornalismo. Não digo que esteja tudo bem, que não haja nada a corrigir. E também não fujo ao debate [disclaimer 2: nas últimas semanas, quebrei um voto que fizera a mim próprio há três anos de não debater no blogue a minha actividade profissional directa precisamente porque acho que há debates que valem a pena].
Para abreviar a questão, duas opiniões curtas e grossas sobre o jornalismo que hoje se faz em Portugal:
a) é muito melhor, a anos-luz, do que se fazia há três, quatro ou cinco décadas. No último século houve alguns «homens de letras» [acho esta expressão deliciosa - há uma associação deles mais jornalistas, no Porto] que se notabilizaram nos jornais portugueses. Eram mais cronistas e escritores em potência, do que jornalistas.
b) se fizermos a comparação entre Portugal e outros países, eu diria que os media portugueses estão muito acima da media do país. Ou seja, temos media melhores que o país. Os nossos jornais de referência podem equiparar-se, sem receios, com vários jornais europeus, enquanto que, em muitos outros indicadores, o país fica claramente a perder. E isto não é pouco.
1. Timor. À parte a frente televisiva, sempre mais dada a componentes emocionais e a um enorme superficialismo, a cobertura da recente crise pela generalidade dos media portugueses pareceu-me positiva. Pobre de início - ninguém tem lá correspondentes permanentes -, mas depois mais extensiva e completa. Foram ouvidos protagonistas [Alkatiri, por exemplo, era raro o dia em que não tinha uma entrevista publicada em Portugal] e especialistas, numa tentativa de explicar algo que, verdadeiramente, ainda ninguém percebeu. Na imprensa portuguesa, li mais perplexidades que certezas, o que, tendo em conta a situação concreta, me parece de elogiar. Penso que não vale a pena comparar a cobertura feita em Portugal com aquela que foi feita, por exemplo, no Brasil - há muitas coisas que não conheço: o Estado tem lá correspondente, a cobertura do Estado foi todos os dias assim? Enfim, demasiadas incógnitas...
A ideia que tenho é que os portugueses ficaram, após esta crise, com uma percepção diferente de Timor-Leste. E que, nessa percepção, a estrela de Xanana perdeu algum brilho. E isso só se pode dever aos media. Pelo que não percebo tanta preocupação com um alegado enviesamento.
2. A filha de Sampaio. O facto de a filha de um PR (saído há seis meses...) ter sido contratada pelo Governo seria notícia em todo o mundo. No mundo anglo-saxónico, tal nomeação seria escrutinada até ao tutano. Assim como o facto de um ex-assessor do PR ser hoje assessor de um grande empresário. A notícia, em si, nada tem de acusatório - os factos devem ser expostos e os protagonistas devem explicar-se. Os leitores que tirem as conclusões. Aos media compete escrutinar os poderes, tudo o que tem a ver com os poderes e não seja da esfera íntima. Por muito que custe a admitir ao TBR, a notícia em causa diz mais sobre o funcionamento da política e da sociedade em Portugal do que outras de aparente maior importância [disclaimer: o jornal onde trabalho dedicou, salvo erro, oito linhas ao assunto].
3. O jornalismo. Não digo que esteja tudo bem, que não haja nada a corrigir. E também não fujo ao debate [disclaimer 2: nas últimas semanas, quebrei um voto que fizera a mim próprio há três anos de não debater no blogue a minha actividade profissional directa precisamente porque acho que há debates que valem a pena].
Para abreviar a questão, duas opiniões curtas e grossas sobre o jornalismo que hoje se faz em Portugal:
a) é muito melhor, a anos-luz, do que se fazia há três, quatro ou cinco décadas. No último século houve alguns «homens de letras» [acho esta expressão deliciosa - há uma associação deles mais jornalistas, no Porto] que se notabilizaram nos jornais portugueses. Eram mais cronistas e escritores em potência, do que jornalistas.
b) se fizermos a comparação entre Portugal e outros países, eu diria que os media portugueses estão muito acima da media do país. Ou seja, temos media melhores que o país. Os nossos jornais de referência podem equiparar-se, sem receios, com vários jornais europeus, enquanto que, em muitos outros indicadores, o país fica claramente a perder. E isto não é pouco.